Pesquisa: 58,4% dos professores atingidos pelo estresse

A pesquisa inédita “Avaliação do Nível de Estresse em Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul”

Comunicação Sinpro/RS
Saúde | Publicado em 05/04/2012


A pesquisa inédita “Avaliação do Nível de Estresse em Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul”, realizada com a coordenação da Dra. Janine Kieling Monteiro, professora do Departamento de Pós-graduação em Psicologia da Unisinos, revela que o acúmulo de trabalho, a multiplicação de tarefas burocráticas impossíveis de serem cumpridas dentro da carga horária contratada, salas de aula superlotadas, incapacidade dos alunos de respeitar limites e a crescente demanda de atividades extraclasse e on-line estão afetando a saúde dos professores do ensino privado e se constituindo em fatores de estresse.

A prevalência de estresse na amostra estudada foi de 58,4%, com predominância na fase de resistência (50,5%) e os sintomas que mais se destacaram foram o cansaço excessivo e a tensão muscular. Segundo a coordenadora da pesquisa Janine Kieling Monteiro, esses dados indicam que um índice significativo da amostra estudada apresenta estresse, com expressivos prejuízos à saúde do professor em decorrência desse quadro.

O trabalho teve colaboração de Carolina Lisboa, também docente do PPG em Psicologia, e participação da mestranda Patrícia Dalagasperina e das alunas Fernanda Haas e Maríndia de Quadros. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unisinos e atende às exigências éticas contempladas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e na Resolução do Conselho Federal de Psicologia 016/2000.

O alto nível de nível de estresse na categoria já havia sido identificado em uma pesquisa anterior, realizada em 2009/2010 pelo Diesat, que investigou as condições de trabalho e de saúde dos professores do ensino privado gaúcho.

UNIVERSO PESQUISADO

A pesquisa contou com a participação de 202 professores. A coordenadora da sondagem afirma que o número de pesquisados se justifica pela sua qualificação em relação ao universo do ensino privado e ao perfil desses professores. Eles atuam na Educação Infantil, nos níveis Fundamental e Médio e na Educação Superior (graduação e pós-graduação) em Caxias do Sul, Passo Fundo, Santa Maria, Pelotas, Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo. Esses municípios foram focados por serem os principais centros urbanos do estado. Os participantes têm entre 25 e 70 anos de idade, sendo a maioria mulheres (64,9%), e 36% cumprem carga horária semanal de 20 a 40 horas. A maioria dos professores (52%) desenvolve suas atividades em uma única instituição e (71,4%) não possuem outra atividade remunerada.

SÍNDROME DE BURNOUT

A pesquisa destaca que os índices de estresse e de burnout encontrados na amostra estudada são superiores a alguns estudos apresentados na literatura e podem ser encarados como um alerta para que as escolas invistam em intervenções voltadas para a saúde dos professores.

Chama a atenção o alto índice de estresse entre os professores na comparação com outros estudos e com diferentes categorias profissionais. Entre os professores, além do alto índice de estresse, constata-se uma incidência de Síndrome de Burnout (esgotamento profissional) em 16,8% dos entrevistados, enquanto que entre policiais militares e bancários, por exemplo, o índice tem sido de 47%.

Segundo a coordenadora da pesquisa, o estresse relacionado ao trabalho é classificado em quatro fases: alerta, resistência, pré-exaustão e exaustão, sendo que a maioria dos entrevistados (50,5%) se identifica com o estágio de resistência ao estresse. “Essa fase do estresse não é a mais grave, pois apesar do desgaste físico e emocional que acarreta, é possível de ser revertido com políticas preventivas”, completa Janine.

EXCESSO DE ATIVIDADES E PRAZOS CURTOS

Os principais aspectos apontados como fatores de estresse foram sobrecarga de atividades extraclasse, o excesso de demandas e os prazos estabelecidos para executar as atividades. As atividades extraclasses citadas como mais estressantes foram a preparação de aulas e de provas, as correções de provas e a elaboração de pareceres e relatórios. Além disto, na pesquisa qualitativa foi destacado pelos participantes que existe uma exigência de atividades que não é proporcional ao número de horas pagas. Estes dados indicam a necessidade de se pensar em novas estratégias para diminuir o excesso de atividades do professor.

Além de demonstrar que as mulheres apresentaram significativamente mais estresse e burnout do que os homens, a pesquisa apontou que os professores que atuam no Ensino Fundamental e Médio foram os que mais apresentaram o quadro de estresse e Síndrome de Burnout. Trabalhos preventivos, a exemplo de treinamentos de capacitação dos docentes para o exercício saudável da profissão, com abordagens de temas como saúde e qualidade de vida e manejo de estresse ocupacional são outra alternativa apontada por especialistas e referida na pesquisa.

PESQUISA REFORÇA REIVINDICAÇÕES DOS SINDICATOS

Para o diretor do Sinpro/RS, Sani Cardon, a sondagem reforça as reivindicações dos professores do ensino privado por melhorias nas condições de trabalho. “A pesquisa reafirma a necessidade de redução do número de turmas por docente, a redução do número de alunos por turma e a contratação de mais professores e profissionais técnicos administrativos para auxiliar nos trabalhos burocráticos e de apoio como medidas eficazes para a melhoria na qualidade de vida dos professores, bem como a valorização do trabalho dos professores dentro das instituições”, destaca.

Os sindicatos encaminharam, no final de março, a pesquisa ao Ministério Público do Trabalho (MPT), que vem intermediando as negociações com relação ao direito que os professores têm ao descanso; e ao Sinepe/RS (sindicato patronal). “É urgente a implementação de políticas para evitar que essa situação de estresse dos professores se agrave e tenha consequências ainda mais graves para a categoria. A desconexão do trabalho tem que ser respeitada”, defende o dirigente.

Confira arquivo da pesquisa