Sujeira está saindo do tapete, diz procurador sobre redações do Enem

E é justamente por isso, por saber que a correção não é bem feita, que o governo simplesmente não permite recorrer da nota", afirmou o procurador em entrevista ao Terra por telefone.

Comunicação Sinpro/RS
Enem | Publicado em 21/03/2013


Autor de diversas ações questionando o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o procurador federal do Ceará Oscar Costa Filho disse na quarta-feira, 20, que vai anexar ao processo que move na Justiça contra o Ministério da Educação (MEC) as cópias de redações com erros de ortografia e que citam uma receita de miojo e o hino do Palmeiras. Segundo Costa Filho, os textos mostram a necessidade de permitir que os estudantes tenham direito a questionar a correção de suas redações. Atualmente, a correção é disponibilizada apenas para fins pedagógicos.

Essas novas denúncias mostram que a sujeira está saindo debaixo do tapete. Sujeira que nós sabíamos que existia e que sabemos que tem muito mais. E é justamente por isso, por saber que a correção não é bem feita, que o governo simplesmente não permite recorrer da nota”, afirmou o procurador em entrevista ao Terra por telefone.

Segundo Costa Filho, de nada adianta saber depois do fim do prazo de matrícula nas universidades que um texto recebeu boa nota mesmo citando a receita de uma massa instantânea. “Vou anexar (os textos) ao processo para que a juíza tome seu convencimento e entenda que o Enem não pode ser realizado sem regra expressa com a possibilidade de recursos”.

O procurador afirmou ainda que muitos estudantes se sentem injustiçados com a nota que recebem pela redação, mas não têm o direito de recorrer porque um termo de ajuste de conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público e o MEC determina que a correção seja apenas para caráter pedagógico, de aprendizagem. “Esse TAC permite que a sujeira seja levada para debaixo do tapete”, diz o procurador ao criticar a decisão da Advocacia-Geral da União (AGU) de apresentar um pedido ao MPF para que o procurador seja afastado das ações do Enem.

“Hoje sofro uma verdadeira caçada humana por causa do Enem. O governo não pode mais usar o seu poder para sacrificar os direitos dos estudantes”, completou.

Polêmicas na redação
Imagens publicadas por um estudante do interior de São Paulo no Facebook mostram que ele tirou 500 pontos na redação do Enem – em uma escala que vai de zero a 1 mil – mesmo depois de ter incluído trechos do hino do Palmeiras entre os parágrafos sobre a imigração no Brasil.

Segundo reportagem do jornal O Globo, outro estudante recebeu 560 pontos depois de ter inserido um parágrafo com a receita para fazer miojo. Em outros casos, candidatos tiraram a nota máxima mesmo com textos com erros de ortografia. A forma de correção da redação do Enem já foi motivo de centenas de ações judiciais nos últimos anos de estudantes que se sentiam injustiçados com a nota recebida.

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), as redações receberam as devidas notas, já que não fugiram do tema proposto em sua totalidade e não apresentaram palavras ofensivas.

Com informações de Terra.